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“Round 6”: dor, união e sobrevivência

A terceira temporada de “Round 6” (originalmente “Squid Game”), fenômeno sul-coreano da Netflix, promete levar o público a uma jornada ainda mais intensa e emocional. Aclamada por seu impacto social, crítica ao capitalismo e brutalidade estilizada, a série não apenas choca pela violência gráfica, mas também emociona ao retratar as escolhas humanas em situações extremas. Nesta nova temporada, o foco em solidariedade e sacrifício torna-se ainda mais evidente, destacando como, mesmo em ambientes opressivos, o espírito coletivo pode sobreviver — e até florescer.

“Round 6”. Trailer da terceira temporada. (Vídeo: reprodução/YouTube/@NetflixBrasil)

O retorno do jogo e a continuação da tragédia

(Cuidado! Alerta de spoilers a partir daqui).
Após o final chocante da segunda temporada, em que Gi-hun decide desafiar a organização por trás dos jogos mortais, a nova leva de episódios começa com uma atmosfera sombria e carregada de tensão. Agora, com mais conhecimento sobre o sistema e suas engrenagens, o protagonista torna-se peça-chave dentro da resistência que começa a se formar entre jogadores e ex-participantes.

O corajoso Gi-hun enfrenta a organização até as ultimas consequências : “Não somos cavalos, somos pessoas”. (Foto: reprodução/Instagram/@NetflixKr)

Contudo, a essência do jogo continua: pessoas endividadas e marginalizadas são atraídas para desafios infantis, com apostas mortais. O roteiro mantém sua crítica social afiada, mas dá um passo além ao explorar o impacto emocional e psicológico prolongado dos jogos nas vítimas sobreviventes.

Solidariedade e união meio ao caos

Se, na primeira temporada, os laços de amizade frágeis, apenas para serem despedaçados pelas regras impiedosas do jogo, a terceira temporada reforça o poder da empatia como arma contra a opressão. Personagens se unem não apenas por conveniência, mas por crença real de que só será possível vencer — ou, ao menos, resistir — se trabalharem juntos.

Uma idosa, uma grávida e uma mulher trans, excluídas por suas fragilidades, se uniram pelas dores em comum e pela vontade extraordinária de sobreviver. (Foto: reprodução/Instagram/@NetflixKr)

Um dos destaques é o arco de dois novos participantes que, embora venham de realidades totalmente distintas, encontram conforto e esperança um no outro. Suas decisões demonstram que, mesmo no cenário mais desumanizador, ainda há espaço para a compaixão. É por meio de pequenos gestos — dividir uma refeição, consolar o outro, proteger alguém durante um desafio — que a série constrói uma teia emocional poderosa.

Essa representação da solidariedade genuína não serve apenas como alívio narrativo, mas como crítica direta a uma sociedade que prioriza o individualismo e a competição. Ao retratar atos de bondade como resistência, “Round 6” envia uma mensagem clara: a humanidade pode sobreviver, mesmo no inferno.

O preço do sacrifício

Por outro lado, a nova temporada não poupa o público da dura realidade do sacrifício. Algumas das cenas mais marcantes envolvem decisões angustiantes, em que os personagens devem escolher entre sua sobrevivência ou a de alguém que amam ou respeitam. Essas escolhas colocam em questão a ética da sobrevivência e até onde uma pessoa pode — ou deve — ir para salvar outro ser humano.

Round 6“ ganhou um novo personagem no meio do jogo. (Foto: reprodução/Instagram/@NetflixKr)

A série não romantiza o sacrifício, mas também não o trata como inútil. Em um dos episódios mais comoventes, um personagem se entrega ao jogo para garantir que sua filha, observando de longe, tenha chance de viver em um mundo diferente. É nesse momento que a série atinge um de seus picos emocionais: mostrar que, mesmo os oprimidos, podem escolher o amor como última ação.

Impacto emocional: do sofrimento ao despertar coletivo

A carga emocional da terceira temporada é imensa, e tem provocado reações fortes no público. Nas redes sociais, fãs relatam choros intensos, crises de empatia e reflexões profundas sobre a realidade socioeconômica de seus próprios países. “Round 6” transcende o entretenimento ao obrigar o espectador a se perguntar: “Eu seria solidário? Eu me sacrificaria? Até onde eu iria por alguém que amo?”

A personagem Cho Hyun-Ju conquistou o público com sua personalidade única. (Foto: reprodução/Instagram/@NetflixKr)

Esses questionamentos são potencializados por direção cuidadosa, trilha sonora melancólica e atuações impecáveis, que dão vida a dilemas morais reais. A dor, o luto e a esperança tornam-se elementos centrais — não mais como meras consequências da trama, mas como motores da narrativa.

Entre o Desespero e a Esperança

A terceira temporada de “Round 6” reafirma a posição da série como uma das mais impactantes produções da Netflix. Ao mergulhar com mais profundidade em temas como solidariedade e sacrifício, a série amplia seu valor social e psicológico. Não é apenas uma crítica ao sistema, é uma ode à humanidade que insiste em sobreviver, mesmo quando tudo ao redor tenta destruí-la.

Com um final que deixa espaço para redenção, reconstrução e, quem sabe, revolução, “Round 6” continua sendo mais do que um jogo mortal. É um espelho perturbador e, ao mesmo tempo, inspirador da condição humana.