O arroz está sob uma ameaça discreta, porém crescente, impulsionada pelas alterações climáticas. Um estudo recente revelou uma ligação entre o aumento das emissões de carbono, o aquecimento global e a elevação dos níveis de arsênio inorgânico nos grãos.
Embora a presença de arsênio seja um problema conhecido, com a substância química de ocorrência natural acumulando-se nos arrozais e contaminando os grãos, a nova pesquisa demonstra que o aquecimento global pode exacerbar significativamente essa questão.
Nos últimos dez anos, cientistas chineses plantaram várias espécies de arroz em ambientes controlados em diferentes regiões do país. Eles acompanharam a quantidade de arsênio nos grãos em função do aumento do dióxido de carbono (CO₂) no ar e da elevação das temperaturas.
Os resultados desse experimento comprovaram que, quanto maior a temperatura e a concentração de CO₂, mais alta é a quantidade de arsênio nos grãos colhidos.
Riscos causados pelo calor e carbono no solo
A explicação para esse aumento reside nas alterações que o aquecimento global provoca no microbioma do solo dos arrozais. Tradicionalmente cultivado em campos inundados para suprimir o crescimento de ervas daninhas, o alimento prospera em ambientes com baixo teor de oxigênio.
Em ambientes anaeróbicos, as bactérias do solo recorrem ao arsênio como substituto do oxigênio no processo de respiração. Esse processo facilita reações químicas que tornam o arsênio mais biodisponível, permitindo que as raízes das plantas de arroz o absorvam com maior facilidade.
O aumento da temperatura e a elevação dos níveis de CO₂ na atmosfera favorecem a atividade de bactérias anaeróbicas. Esse acréscimo de carbono, aliado ao calor, potencializa a eficiência desses microrganismos em mobilizar o arsênio presente no solo, resultando em uma maior concentração desse elemento nos grãos.
Risco de implicações para a saúde
Mesmo em baixas concentrações, a ingestão de arsênio tem sido relacionada a um maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares, câncer e diabetes.

Simulações epidemiológicas baseadas no estudo indicam que o aumento projetado nos níveis de arsênio no arroz poderia contribuir para milhões de casos adicionais de câncer somente na China, um dos maiores consumidores mundiais do cereal.
Embora eliminar completamente o arsênio dos alimentos seja inviável devido à sua presença natural no ambiente, estratégias para mitigar a contaminação e reduzir a exposição humana estão sendo pesquisadas.
Cientistas investigam diferentes técnicas de plantio, a exemplo da irrigação intermitente – que consiste em alternar períodos de inundação com drenagem nos campos –, a qual se mostrou eficaz na diminuição dos níveis de arsênio, apesar de poder elevar a concentração de outros elementos perigosos, por exemplo, o cádmio.
Outras abordagens em estudo incluem a seleção de variedades de arroz que naturalmente acumulam menos arsênio, a adição de substâncias como o enxofre à água de irrigação para alterar a biodisponibilidade do arsênio, e a modificação do microbioma do solo com a adição de certos fertilizantes.
Além disso, o cultivo de arroz em áreas com menor concentração natural de arsênio no solo e na água, como em regiões da África Oriental que dependem da água da chuva, também se mostra promissor para reduzir os riscos de contaminação.
Especialistas defendem a necessidade de um monitoramento mais rigoroso e de regulamentações mais abrangentes em relação aos níveis de arsênio nos alimentos, considerando as variações no consumo desse alimento em diferentes populações.