Press ESC to close

Quem conta a história de Manoel Carlos? Família do autor cobra transparência da Globo

Manoel Carlos, autor de clássicos da TV, está no centro de uma disputa entre família e Globo sobre transparência e preservação de sua obra

Pedido de maior transparência

A Boa Palavra, produtora responsável por gerenciar o acervo de Manoel Carlos, acionou a Justiça para cobrar da Globo esclarecimentos sobre o pagamento de direitos autorais. O gesto, porém, não é um episódio isolado, mas reflexo de uma relação que há anos apresenta sinais de desgaste. O embate vai além da questão financeira: envolve reconhecimento em torno da carreira de um dos mais emblemáticos autores da dramaturgia nacional.

Divergências em relação às homenagens

Um dos conflitos ocorreu quando a Globo anunciou a produção de um episódio da série “Tributo”, dedicado ao autor. A família sustenta que Maneco não foi convidado a participar, enquanto a emissora defende que houve contato. O impasse, aparentemente protocolar, carrega uma camada mais profunda: a percepção dos familiares de que, nos últimos anos, o escritor não recebeu da emissora o tratamento condizente com sua relevância.

Nesse contexto, Júlia Almeida, filha do autor, produziu um documentário sobre o pai e disponibilizou o material no YouTube. A iniciativa, concebida como gesto de afeto, foi vista com reservas pela Globo, que já havia preparado sua própria homenagem. Para analistas do setor, a reação expôs a disputa velada sobre quem teria o direito de conduzir a memória de Manoel Carlos.

Uma contradição histórica

O episódio revela um paradoxo: a Globo, tradicionalmente conhecida por enaltecer seus autores enquanto estão em plena atividade, parece enfrentar dificuldades em lidar com seus legados após a aposentadoria. Desde 2014, quando anunciou seu afastamento definitivo, Manoel Carlos mantém-se recluso, hoje aos 92 anos, convivendo com o mal de Parkinson.

Diante da ausência de protagonismo da emissora, a família assumiu a tarefa de preservar e divulgar a obra, mas acabou se deparando com resistências. O processo judicial não inaugura esse embate, apenas formaliza tensões antigas.

Nota oficial

Em comunicado enviado à imprensa, a Boa Palavra destacou que não se trata de um processo litigioso, mas de um pedido de prestação de contas previsto em contrato. Segundo a empresa, há dois anos solicita extrajudicialmente informações detalhadas sobre o uso das obras. Contudo, sem retorno satisfatório, recorreu ao Judiciário para obter transparência.

A dúvida persiste: caberá à família ou à Globo decidir como será lembrado Manoel Carlos, autor que moldou a teledramaturgia brasileira? No fundo, o que está em jogo não é apenas o esclarecimento de contratos, mas a preservação da memória de um novelista cuja obra atravessou gerações e ajudou a definir a identidade da televisão nacional.