O uso do cigarro eletrônico, popularmente conhecido como vape, por uma adolescente de 15 anos, faleceu no Distrito Federal (DF) após desenvolver uma grave inflamação pulmonar, diretamente ligada ao uso de cigarro eletrônico.
A jovem, que chegou ao Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) com um quadro severo de pneumonia resistente a antibióticos, teve uma lesão pulmonar irreversível, causada pela inalação das substâncias oleosas presentes nesses dispositivos.
Segundo o caso a pneumologista Alessandra Camargo, que atendeu a adolescente, é o primeiro de sua natureza envolvendo um paciente tão jovem no DF, e ressalta a urgência em discutir os perigos do vape. A adolescente, que utilizou ao menos três refis do aparelho — cada um contendo até 8 mil doses — escondeu o hábito dos pais, uma prática comum entre usuários devido à ausência de cheiro e à facilidade de ocultação do dispositivo.
A médica lamentou a perda, classificando-a como uma “tragédia evitável”, e alertou para a falta de tratamento específico para lesões pulmonares como a que acometeu a jovem, cujo pulmão estava quase totalmente comprometido.
A morte da adolescente lança luz sobre uma preocupação crescente na saúde pública: o aumento do uso de cigarros eletrônicos entre jovens e a falta de conhecimento sobre seus riscos. A falsa percepção de que o vape é uma alternativa “segura” ao cigarro tradicional tem levado muitos a adotarem o hábito, sem se darem conta dos perigos inerentes aos líquidos e aerossóis inalados.
Diferente da fumaça do cigarro convencional, o vapor do cigarro eletrônico contém uma mistura complexa de substâncias, incluindo nicotina, aromatizantes, propilenoglicol, glicerina vegetal e metais pesados, que podem causar danos significativos aos pulmões e outros órgãos. A ausência de combustão não significa ausência de toxicidade; pelo contrário, o aquecimento desses líquidos pode gerar produtos químicos ainda não totalmente compreendidos e com potencial lesivo.
Doenças pulmonares associadas ao vape
A lesão pulmonar sofrida pela adolescente, conhecida como EVALI (lesão pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico ou vaping), é um diagnóstico preocupante que vem sendo cada vez mais documentado em diversos países.
Embora ainda não haja um consenso total sobre todos os componentes responsáveis por essa condição, estudos apontam o acetato de vitamina E como um dos principais suspeitos, especialmente quando presente em produtos de vape contendo THC (tetrahidrocanabinol). No entanto, outros aditivos e substâncias presentes nos líquidos também podem contribuir para a inflamação e danos pulmonares.

Os sintomas da EVALI podem variar de leves a graves, que incluiem tosse, falta de ar, dor no peito, náuseas, vômitos, diarreia, febre e fadiga, e podem progredir rapidamente, como no caso da adolescente. A dificuldade em diagnosticar a EVALI reside no fato de seus sintomas serem semelhantes aos de outras doenças respiratórias, muitas vezes levando a tratamentos inadequados até que a verdadeira causa seja identificada.
Ocultação e acesso
A facilidade com que a adolescente conseguiu esconder o uso do vape de seus pais é um reflexo de um problema maior: a dificuldade dos pais e educadores em identificar e intervir no uso de cigarros eletrônicos. A ausência de cheiro característico da fumaça do cigarro tradicional e o design discreto dos dispositivos de vape facilitam a ocultação, permitindo que jovens utilizem os aparelhos em ambientes onde o uso de tabaco seria imediatamente detectado.
Além disso, o acesso a esses produtos por menores de idade, apesar das proibições legais em muitos locais, continua sendo um desafio. A venda online, a falta de fiscalização rigorosa em alguns pontos de venda e a partilha entre amigos contribuem para que adolescentes consigam adquirir os vapes.