Toninho Geraes, 57, compositor de “Mulheres”, samba eternizado por Martinho da Vila nos anos 1990, vive um momento de destaque no cenário jurídico e musical. Por decisão da 6ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, a música “Million Years Ago”, lançada por Adele em 2015, não poderá mais ser reproduzida, distribuída ou comercializada, inclusive em plataformas de streaming, sem a autorização de Geraes. A medida foi determinada após o juiz Victor Torres reconhecer uma “indisfarçável simetria” entre as duas canções, embora o plágio ainda não tenha sido completamente comprovado.
“Eu fico na minha. Vivo e toco a minha vida como se nada tivesse acontecido”, comentou Toninho, tentando manter a serenidade em meio ao que descreve como um “turbilhão” de acontecimentos.
Decisão judicial e reações
A decisão prevê uma multa de R$ 50 mil para cada violação à proibição, mas Toninho Geraes demonstra certa descrença quanto à eficácia da medida. “A música continua nos streamings. Espero que eles cumpram a decisão da Justiça. Mas, se não cumprirem, será que eu vou ter que tomar alguma atitude?”, questionou o compositor.
De acordo com a determinação, a única forma de “Million Years Ago” voltar a ser reproduzida legalmente é com a autorização explícita de Toninho. No entanto, ele garante que não está disposto a concedê-la. “Eles nunca se importaram comigo, nunca acenaram com nenhuma bandeira de boa vontade. Então, por que eu deveria me preocupar com eles?”, argumentou o artista.
Superação pessoal e novos projetos
Além da disputa judicial, Toninho passou recentemente por um desafio de saúde. Durante um exame de rotina, foi diagnosticado com leucoplasia, uma lesão nas cordas vocais que o levou a uma cirurgia de emergência. Apesar do susto, a biópsia revelou que a lesão não era cancerígena, e, após sessões de fonoaudiologia, ele já voltou aos palcos.
“Semana passada fiz shows no Rio, em Florianópolis e em Campos dos Goytacazes. Já fiz uns 12 shows e diria que estou com 70% da minha voz. Em um mês, estarei 100%”, declarou com otimismo.
Paralelamente, Toninho lançou o álbum “O amor dos poetas”, uma coleção de composições inéditas que reafirma sua paixão pelo samba. Apesar do entusiasmo com o projeto, ele lamenta a pouca visibilidade que o gênero tem recebido no mercado musical. “A gente faz discos e as rádios não tocam. O samba virou um som para churrasco de domingo. Durante a semana, ninguém toca nem Paulinho da Viola”, desabafou.
Reflexões sobre o cenário musical
Com mais de 40 anos de carreira, Toninho reflete sobre os altos e baixos de ser compositor no Brasil. “Graças a Deus sou um compositor que canta, porque não dá para contar com direito autoral, nem com processo de Adele!”, disse, com bom humor.
Além do álbum recente, ele desenvolveu o projeto “Aluayê”, inspirado nos afrossambas de Baden Powell e Vinícius de Moraes, mas lamentou a falta de reconhecimento da obra. “Esperava prêmios e nem indicação teve. É difícil entender.”
Enquanto lida com o embate jurídico e retoma a rotina de shows, Toninho Geraes segue firme, celebrando pequenas vitórias e defendendo seu legado artístico. “É um trabalho de anos, de amor ao samba. Não vou abrir mão disso.”
