Cães de Chernobyl revelam assinatura genética única

Pesquisa mostrou a capacidade dos cães que vivem em Chernobyl de se reproduzir e evoluir em resposta contínua à radiação
Rosto de cachorro olhando para cima
Cães de Chernobyl revelam assinatura genética única. Reprodução/Pexels/@SimonRobben

Quase quatro décadas após o acidente nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, uma história de sobrevivência e adaptação se desenrola na Zona de Exclusão (ZEC). Abandonados à própria sorte após a explosão do reator em abril de 1986, os cães domésticos que ali permaneceram não apenas resistiram ao ambiente, mas também prosperaram e se reproduziram, formando uma população canina singular.

Um estudo genético recente mostrou a capacidade desses animais de evoluir em resposta à contínua exposição à radiação. Pesquisadores, intrigados pelos efeitos da radiação no sistema imunológico, desenvolvimento de doenças e expectativa de vida desses animais, têm dedicado esforços para compreender sua adaptação ao longo de inúmeras gerações.

Uma pesquisa publicada em 2023 na revista Science Advances, analisou o DNA de 302 cães selvagens que habitam as proximidades da usina nuclear, comparando-os com outros grupos localizados entre 15 e 45 quilômetros de distância do epicentro do desastre.

Os resultados revelaram uma característica genética surpreendente: os cachorros da área da usina de Chernobyl demonstram uma similaridade genética intrapopulacional significativamente maior. Em outras palavras, seus genes são mais parecidos entre si do que os de outros cães em diferentes localidades.

Isolamento genético e adaptação à radiação

Essa homogeneidade genética sugere que as condições ambientais únicas da ZEC desencadearam um processo evolutivo distinto. A pressão seletiva exercida pelo ambiente altamente radioativo parece ter favorecido a sobrevivência e reprodução de indivíduos com certas características genéticas, resultando em um conjunto de genes mais uniforme dentro da população canina local.

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Elaine Ostrander, geneticista do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano dos Estados Unidos e uma das autoras do estudo, destacou o principal foco da investigação: “Como você sobrevive em um ambiente hostil como este por 15 gerações?“. Seu colega, Tim Mousseau, professor da Universidade da Carolina do Sul, ressalta a importância dos canídeos como “uma ferramenta incrível para observar os impactos desse tipo de ambiente” em mamíferos.

A jornada para desvendar os segredos genéticos dos cães de Chernobyl começou em 2017, quando Mousseau, que visita a região desde 1999, encontrou os animais semisselvagens durante uma expedição de cuidados veterinários. A coleta de amostras de sangue revelou que esses animais são provavelmente descendentes dos animais de estimação abandonados pelos moradores evacuados após o acidente.

Atualmente, uma população considerável de cães reside na ZEC, sendo alimentada pelos “liquidadores” (trabalhadores envolvidos na contenção e limpeza), turistas e influenciadores. Inicialmente, os pesquisadores esperavam encontrar uma mistura genética significativa entre os cachorros da zona. No entanto, a análise genética detalhada identificou distintas matilhas vivendo em áreas com diferentes níveis de exposição à radiação, revelando até mesmo cerca de 15 linhagens familiares distintas.

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Cães de Chernobyl revelam assinatura genética única
Estudo revelou cerca de 15 linhagens familiares distintas. (Foto: Reprodução/Pexels/@GundulaVogel)

Implicações para o estudo da evolução em ambientes extremos

O estudo pioneiro representa a primeira caracterização genética de uma espécie doméstica em Chernobyl, estabelecendo sua relevância para investigações sobre os efeitos a longo prazo da exposição à radiação ionizante de baixa dose.

Como explica Ostrander, a análise genética permite comparar os cães de Chernobyl com outras populações e identificar as alterações, mutações e evoluções no nível do DNA que podem ser vantajosas ou prejudiciais em um ambiente radioativo.

Embora o estudo revele uma assinatura genética distinta nos cães da usina, os pesquisadores alertam que é complexo determinar com certeza se as mutações observadas são diretamente induzidas pela radiação ou por outros fatores, como a endogamia (acasalamento entre indivíduos geneticamente semelhantes).

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