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Urias lança “CARRANCA” e inicia nova fase conectada às raízes afro-brasileiras

Com novo álbum, Urias inaugura uma fase mais madura e espiritual, celebrando ancestralidade, resistência e liberdade

No mês de agosto, Urias lançou a faixa “Deus”, que conta com a participação do cantor Criolo, oferecendo ao público uma prévia da força e profundidade que seu novo álbum traria. E assim foi feito: na última terça-feira (7), a artista lançou “CARRANCA”, seu novo álbum, com participações de peso como Criolo, Major RD, Giovani Cidreira e Don L. Nos interlúdios, quem dá voz é a artista Marcinha do Corintho.

Inspirações do novo álbum “CARRANCA”

A inspiração para o título deste álbum veio da escultura de madeira utilizada originalmente nas embarcações que cruzam o Rio São Francisco, com o propósito de afastar os maus espíritos e atrair boas vibrações. Atualmente, as carrancas também são usadas em casas e comércios, preservando um profundo valor cultural, histórico e folclórico.

Urias
Esculturas de carrancas. (Foto: reprodução/Pinterest)

Na cultura afro-brasileira, a carranca está ligada ao orixá Exu, considerado o mensageiro entre o mundo material e o espiritual. É justamente entre esses diferentes planos que a cantora mineira se movimenta nas 14 faixas do disco, incluindo três interlúdios, em um projeto denso que guia seu público por uma jornada repleta de ancestralidade, simbologias, liberdade e resistência.

Uma travessia simbólica e estética afro-surrealista

A trajetória contada no álbum se desenrola como uma jornada simbólica. No primeiro interlúdio, Urias aborda a ideia de uma liberdade ilusória — um ideal que parece possível, mas permanece fora de alcance.

O segundo momento aprofunda essa discussão, apresentando a vingança como uma resposta, uma rota alternativa diante da opressão.

No terceiro e último interlúdio, a artista conclui o percurso com um retorno metafórico à Etiópia, evocando o reencontro com as origens, com a Mãe Terra, onde a liberdade finalmente se manifesta em sua forma mais autêntica.

Segundo a Rolling Stones, a capa do álbum, bela e expressiva, foi assinada pelo artista plástico paulista Isaac de Souza Sales, que trabalha com afro-surrealismo.

Pintura surrealista retrata uma figura feminina negra de corpo inteiro no centro da composição, com o corpo pintado de preto e o rosto em vermelho, usando uma coroa dourada sob uma estrela amarela de seis pontas. Ela está cercada por figuras masculinas negras com chifres vermelhos e expressões intensas, que observam a cena dos dois lados. A mulher está posicionada sobre formas brancas e azuis que lembram asas ou mantos, enquanto duas pombas brancas aparecem nas laterais inferiores, sugerindo equilíbrio entre espiritualidade e poder terreno. O estilo pictórico mistura elementos simbólicos, religiosos e afro-surrealistas.
Capa do álbum “CARRANCA”. (Fonte: divulgação/Spotify)

Ainda segundo o mesmo veículo, direção criativa dos visuais ficou por conta de Ode, responsável por construir uma estética afro-surrealista repleta de referências simbólicas. As imagens evocam figuras históricas como Josephine Baker e Sarah Baartman, além de dialogarem com a mitologia afro-diaspórica e egípcia por meio de divindades como Oxalá, Iemanjá, Iansã, Hórus e Ptah.

A produção sonora do álbum ficou majoritariamente sob a responsabilidade de Maffalda, Gorky e Nave, enquanto a mixagem foi realizada por Rafael Fadul e a masterização por Arthur Luna. Os interlúdios foram escritos pelo historiador francês Guillaume Blanc-Marianne, pesquisador da Bibliothèque Nationale de France e especialista em história da fotografia.

A trajetória de Urias: da internet à consolidação artística

Natural de Uberlândia, Minas Gerais, Lorena Urias Martins da Silva — mais conhecida como Urias — possui atualmente mais de 400 mil ouvintes mensais no Spotify e mais de 50 milhões de visualizações no YouTube. Começou sua carreira lançando covers em 2018 e consolidou-se com faixas como “Diaba”, “Blossom”, “Rolling” e “Peligrosa”.

Com “CARRANCA“, a artista inaugura uma etapa mais sólida e madura de sua trajetória, marcada por uma profunda conexão com as raízes afro-brasileiras que sustentam sua identidade artística e pessoal.