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Banheiros sem condições de uso e macas enferrujadas: o retrato do descaso no Hospital Agamenon Magalhães

As imagens expõem a precariedade no Hospital Agamenon Magalhães: macas enferrujadas, cadeiras quebradas e portas danificadas revelam a falta de estrutura enfrentada por pacientes e acompanhantes

O Hospital Agamenon Magalhães (HAM), referência em saúde no Recife (PE), tem sido alvo de críticas severas por parte de pacientes e acompanhantes devido às condições precárias de sua estrutura. Em entrevista, uma acompanhante relatou ter retornado ao hospital após dez anos para acompanhar um familiar em cirurgia e constatou que nada havia mudado desde sua última experiência.

Segundo ela, o setor onde ficaram “hospedadas” apresenta macas enferrujadas e de difícil manuseio, cadeiras quebradas e em número insuficiente, além de banheiros sem condições mínimas de higiene e acessibilidade.

“As portas não fecham, o vaso não tem tampa, há água empoçada no chão e risco constante de infecção”, afirmou.

Outro ponto destacado pela acompanhante foi a ausência de itens básicos, como lençóis e travesseiros, que não são disponibilizados pelo hospital — cabendo ao próprio paciente levar de casa. A situação se agrava também com relação à água potável: em nenhum momento foi oferecida água durante a internação. Ao questionar outros pacientes, a resposta foi de que as garrafas que possuíam não vinham do hospital, já que a água disponível tinha um forte gosto de cloro, sendo considerada imprópria para consumo. Assim, cada paciente precisa arcar com esse custo extra, comprando garrafas em supermercados ou nas barracas em frente ao hospital, como relatou a entrevistada.

Falta de privacidade

A acompanhante também destacou a falta de privacidade dos pacientes, já que não há divisórias entre os leitos. Procedimentos delicados, como a colocação de sondas, são realizados diante de outros internados, ferindo princípios básicos de dignidade. A estrutura ainda oferece riscos diretos à segurança: escadas quebradas com pregos e parafusos aparentes, janelas danificadas e ausência de ventiladores ou ar-condicionado.

Além do desconforto, o cenário gera preocupação quanto à biossegurança, afetando não apenas os pacientes e acompanhantes, mas também os profissionais de saúde que atuam no local. “Tudo ali representa risco. É revoltante ver um hospital desse porte abandonado dessa forma”, desabafou.

Diante da situação, a entrevistada faz um apelo às autoridades.

“É urgente uma reforma geral. O mínimo que esperamos é dignidade e respeito”.

O relato reflete uma realidade preocupante para a saúde pública em Pernambuco, onde a falta de infraestrutura coloca em xeque a qualidade do atendimento e expõe vulnerabilidades que exigem soluções imediatas.

Confira a entrevista completa sobre Hospital Agamenon Magalhães

1. Para começar, gostaria que você contasse: qual foi o motivo da internação do seu familiar?

R: Para realizar uma cirurgia de correção de uma outra cirurgia realizada há dez anos no mesmo hospital.

2. Quanto tempo vocês permaneceram no hospital e em qual setor/quarto ficaram?

R: Entramos numa sexta-feira e saímos no dia seguinte, sábado. Ficamos no 1° andar, não recordo o número da enfermaria, mas sei que após subir a escada, virando-se para a esquerda, ficamos 1ª enfermaria do lado direito do corredor.

3. Durante esse período, quais problemas de infraestrutura você presenciou?

R: Diversos, um absurdo atrás do outro. Após dez anos, não houve melhora nenhuma naquele setor.

4. As camas e cadeiras estavam em boas condições de uso? Você precisou utilizá-las? Como foi essa experiência? 

R: Não, as macas são velhas, enferrujadas e de difícil manuseio. Não há cadeiras para os acompanhantes, apenas cadeiras plásticas quebradas, o acompanhante tem que sair procurando por dentro das enfermarias até achar, foi essa informação que obtive no posto de enfermagem e com outros funcionários que estavam no setor, que não há cadeiras disponíveis, “se tiver sorte, você acha alguma”. Após procurar bastante, encontrei uma que não estava quebrada e tive que amarrá-la à maca para que não levassem.

Hospital Agamenon Magalhães
(Foto: reprodução/Arquivo Pessoal)

5. E em relação aos banheiros, ofereciam condições mínimas de higiene e acessibilidade?

R: Nenhuma condição de higiene, havia água empoçada o tempo todo, algo que é característico de vazamento, vaso sanitário sem tampa, a porta com a maçaneta quebrada e isso impedia o fechamento correto da porta porque se fechasse corria o risco do paciente/acompanhante ficar presos dentro do banheiro. E isso forçava que o banheiro fosse utilizado com a porta apenas encostada, sem o mínimo de segurança em relação à privacidade, pois a qualquer momento a porta poderia abrir ou alguém poderia entrar.

6. Você mesma fez as fotos que nos enviou. Pode descrever o que elas mostram?

R: Sim, as fotos mostram a realidade da estrutura precária que não oferece o mínimo de dignidade aos pacientes e seus acompanhantes. Naquele setor, os pacientes internados ficam tanto para aguardar exames/cirurgias e também no pós-cirúrgico.

(Foto: reprodução/Arquivo Pessoal)

7. De que forma esses problemas afetaram o dia a dia do paciente e também dos acompanhantes? 

R: Afeta de todas as formas possíveis porque, ao chegar, você se pergunta como pode uma estrutura daquela ser leito de enfermaria?! Logo quando você sobe e entra você tem vontade de desistir de ficar ali, porque nada passa perto do ideal do seria uma enfermaria, não há separação entre os leitos, todos os procedimentos que acontecem com os pacientes, são feitos com os demais pacientes vendo tudo, inclusive a colocação de sonda urinária (não há privacidade).

8. Em algum momento, você percebeu risco direto à segurança do paciente devido a móveis ou estruturas danificadas? 

R: Sim, as macas em péssimo estado, a escada para o paciente subir e descer da maca, quebrada com parafusos e pregos aparentes, os degraus quebrados, banheiro molhado, não tem local para pendurar os pertences, janelas quebradas, sem ventilador/ar-condicionado.

9. A limpeza dos ambientes era feita regularmente? 

R: Durante o período em que fiquei, vi apenas uma funcionária passar o pano no chão, mas sem retirar nada do lugar.

10. Houve situações em que você sentiu que o ambiente poderia representar risco de infecção?

R: Como toda certeza, tudo ali é um risco, principalmente o banheiro.

(Foto: reprodução/Arquivo Pessoal)

11. Chegou a observar improvisos para “remendar” móveis ou estruturas, como sacolas plásticas, madeiras ou amarras?

R: Observei que no local onde já deve ter tido um ventilador na parede, havia uma tomada que estava com o fio para fora, indicando que seria do ventilador que já não se encontra mais ali.

12. Como os outros pacientes e acompanhantes reagiam a essas condições?

R: Todos reclamavam que aquilo ali é um absurdo.

13. Na sua visão, esse cenário também afeta o trabalho dos profissionais de saúde?

R: Eu acredito que sim, pois quem tem o mínimo de noção de biossegurança sabe que ali é um ambiente inadequado, que oferece risco iminente à saúde de todos.

14. E para você, pessoalmente, como foi acompanhar um familiar doente nessas condições?

R: Péssimo, triste, revoltante.

15. O que você espera das autoridades de saúde diante dessa situação?

R: Espero que as autoridades cumpram o seu papel de oferecer dignidade e respeito aos pacientes e seus acompanhantes que necessitam utilizar o serviço público de saúde, porque é revoltante chegar a um hospital grande como o HAM e encontrá-lo nessa situação de abandono.

16. Na sua opinião, quais seriam as mudanças mais urgentes que deveriam ser feitas no hospital?

R: Diante do meu relato, precisa melhorar tudo, uma reforma geral é urgente e necessária. Após dez anos, retornar àquele mesmo setor e presenciar que nada mudou, que tudo continua do mesmo jeito, traz uma sensação de que a vida e a dignidade da população que precisa utilizar este serviço não vale nada.

PE investe R$ 1 bilhão e HAM terá R$ 14,6 milhões em melhorias

O governo de Pernambuco anunciou, na última segunda-feira (1), um pacote de investimentos que ultrapassa R$ 1 bilhão, contemplando áreas como saúde, educação, segurança, habitação, saneamento e mobilidade.

Na área da saúde, o aporte previsto é de cerca de R$ 200 milhões, incluindo a compra de equipamentos médicos e hospitalares para unidades da rede pública. Entre as melhorias estruturais anunciadas, o destaque vai para o Hospital Agamenon Magalhães, em Casa Amarela, Zona Norte do Recife, que receberá R$ 14,6 milhões em obras de ampliação e reforma. O objetivo é fortalecer a capacidade de atendimento do hospital, que é referência no estado.

O anúncio foi feito pela governadora Raquel Lyra (PSD), durante evento realizado na Escola Técnica Miguel Batista, no bairro da Macaxeira, também na Zona Norte do Recife.

O Portal ressalta que está disponível para divulgar as respostas das autoridades de saúde acerca da situação no Hospital Agamenon Magalhães.