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A polêmica da maquiagem no futebol feminino: o que está por trás das críticas a Alisha Lehmann?

Futebol feminino e estética: jogadora Alisha Lehmann vira alvo por usar maquiagem e levanta debate sobre preconceito e feminilidade no esporte

Ícone dentro e fora de campo, a jogadora suíça virou alvo de polêmica por conciliar vaidade e alto desempenho esportivo — revelando como o machismo ainda impacta como as atletas são vistas.

O caso da jogadora Alisha Lehmann escancara o preconceito enfrentado por mulheres que ousam unir vaidade e alto rendimento no futebol. Apesar dos avanços conquistados pelo futebol feminino nos últimos anos, a aparência das jogadoras ainda é frequentemente alvo de críticas e julgamentos.

Quando Alisha Lehmann entra em campo maquiada, o que deveria ser apenas uma escolha pessoal se transforma em polêmica. A atleta, destaque da Juventus e da seleção suíça, é alvo constante de comentários misóginos por conciliar aparência e esporte. Mas afinal, por que uma mulher maquiada no futebol ainda incomoda tanto?

A atleta e influenciadora

Com mais de 16 milhões de seguidores no Instagram, Lehmann virou símbolo de uma geração que une performance e presença digital. Seus dribles, gols e defesas dividem espaço com selfies bem produzidas, parcerias com marcas de moda e maquiagem e conteúdo voltado ao lifestyle. Para muitos, esse protagonismo nas redes sociais comprometeria sua seriedade como atleta, como se vaidade e competência fossem excludentes.

Entretanto, o sucesso de Lehmann fora de campo representa uma estratégia inteligente de marca pessoal e empoderamento. Em uma modalidade historicamente marginalizada, conquistar visibilidade e apoio comercial é um passo importante para valorizar o futebol feminino.

O preconceito disfarçado de opinião

Os ataques a Lehmann são parte de um contexto maior de misoginia estrutural. Quando uma jogadora opta por se maquiar, não é raro que seja chamada de  “superficial”, “menos comprometida”. Nomes como Marta, Cristiane e Alex Morgan já enfrentaram esse tipo de julgamento em diferentes momentos da carreira.

O futebol masculino, por outro lado, celebra expressões estéticas como cortes de cabelo exóticos, tatuagens, brincos e looks estilosos. Neymar, por exemplo, é conhecido tanto pelo talento quanto pelas mudanças no visual. Mas dificilmente isso é usado como argumento para questionar sua entrega em campo.

Com as mulheres, porém, a narrativa é diferente: uma jogadora vaidosa é tratada como descomprometida, mesmo que seu desempenho em campo seja impecável.

Tradução: onde a maquiagem é ok no esporte/onde parece não ser ok… 

Vaidade e identidade: uma luta diária

Para muitas mulheres, usar maquiagem é mais do que uma escolha estética: é uma forma de expressão, identidade e autoconfiança. No caso de Lehmann, a maquiagem virou também uma ferramenta de provocação e afirmação.

Segundo a Vogue, a atleta comentou em uma entrevista recente: “Quanto mais você fala, mais batom”. A frase virou bordão entre seus fãs, e um símbolo da resistência feminina no esporte. Seu gesto desafia padrões e revela a força de uma geração de mulheres que não abrem mão de ser quem são para agradar ao olhar alheio.

O futebol feminino e os desafios da visibilidade

A presença de jogadoras como Lehmann nas redes sociais também chama atenção para os desafios do futebol feminino: menor investimento, menos transmissões, falta de patrocínio e visibilidade reduzida. Construir uma imagem forte fora dos gramados é uma estratégia que ajuda a ampliar o interesse do público, atrair marcas e movimentar o mercado.

No documentário sobre a vida e carreira da atleta, “Britain’s Youngest Football Boss”, produzido pela BBC, Alisha Lehmann reflete sobre as desigualdades de gênero no futebol.

 “Se eu fosse homem, seria muito, muito rica agora. Eles nem precisam usar a internet para trabalhar”.

Ainda assim, muitas jogadoras são obrigadas a andar na linha tênue entre visibilidade e julgamento. Se mostram demais, são chamadas de narcisistas; se mostram de menos, desaparecem do radar da mídia.

Por isso, a liberdade de se maquiar, se produzir ou se expressar como quiser deve ser defendida não apenas como um gesto de estilo, mas como um direito fundamental de toda mulher: o de existir no esporte sem precisar se justificar. A maquiagem no futebol feminino não é só um detalhe estético, é uma declaração de independência.

Alisha Lehmann e tantas outras mostram que é possível unir vaidade e rendimento, beleza e força, sem abrir mão da autenticidade. O que precisa mudar não é o uso da maquiagem, mas como a sociedade encara a presença feminina no esporte.