O lipedema é uma condição caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura nos braços e pernas, frequentemente confundida com obesidade ou excesso de gordura comum. Descrita pela primeira vez em 1940, a doença ainda é pouco reconhecida, mesmo após sua inclusão na Classificação Internacional de Doenças (CID-11) em 2022.
Diferente da obesidade, a gordura do lipedema não responde a dietas e exercícios físicos, marcada por fibrose, nódulos dolorosos e um aspecto característico de “casca de laranja“. Segundo Fábio Kamamoto, cirurgião plástico e idealizador do Instituto Lipedema, muitas mulheres passam anos frustradas por não conseguirem reduzir a gordura acumulada nos membros, apesar de manterem um estilo de vida saudável.
Sintomas e diagnóstico
Os sintomas do lipedema incluem o apagamento do contorno dos joelhos, formato irregular das pernas e sensação de peso e dor, além de hematomas frequentes devido à fragilidade dos vasos sanguíneos. Por serem sinais comuns a outras condições, o diagnóstico deve ser realizado por um profissional experiente na doença.
Conforme o cirurgião vascular Mauro de Andrade, a avaliação leva em conta histórico familiar, padrão de distribuição da gordura e a relação com mudanças hormonais, como a puberdade e a gravidez. Exames complementares, como ultrassom venoso com doppler, podem ser solicitados para excluir outras doenças venosas.
Um mistério para a medicina
Apesar do avanço nas pesquisas, o lipedema ainda é considerado um mistério. Andrade explica que a gordura envolvida na doença é diferente tanto da superficial quanto da visceral, e os mecanismos que levam ao seu acúmulo ainda não foram totalmente compreendidos.
Fatores genéticos e hormonais são apontados como os principais gatilhos da doença, que tende a piorar em momentos de mudança hormonal. Kamamoto ressalta que a inflamação também tem um papel importante, e hábitos como consumo excessivo de ultraprocessados e sedentarismo podem agravar o quadro.
Impacto na saúde e tratamento

O lipedema não afeta apenas a aparência, mas também a mobilidade e a saúde geral. O sistema linfático pode ser comprometido, levando a inchaço e linfedema, enquanto o peso excessivo nos membros inferiores pode causar danos às articulações, aumentando o risco de deformidades nos joelhos.
O tratamento do lipedema envolve mudanças na alimentação, atividades físicas e terapias para reduzir o inchaço, como drenagem linfática e uso de meias de compressão. Em casos mais graves, a lipoaspiração é indicada para remover as células de gordura afetadas.
No entanto, o custo do procedimento ainda é elevado, girando em torno de R$ 40 mil na capital paulista. Por isso, iniciativas como o ‘Movimento Lipedema‘, liderado por Kamamoto, buscam ampliar o acesso ao tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O futuro do lipedema na medicina
Apesar de avanços significativos na compreensão da doença, muitos profissionais de saúde ainda contestam seu reconhecimento como uma condição distinta.
Para Kamamoto, essa resistência lembra o que aconteceu com a obesidade, que já foi vista apenas como falta de disciplina, mas hoje é reconhecida como uma doença crônica. Ele alerta para a necessidade de maior conscientização e pesquisas que possam levar a tratamentos mais acessíveis e eficazes.
Enquanto isso, mulheres com lipedema continuam buscando alternativas para melhorar sua qualidade de vida, enfrentando desafios diários e aguardando o reconhecimento médico e social dessa condição ainda tão desconhecida.